Diante da mudança profunda sofrida no “modelo” de família do século XXl, considerando que um dos fatores são a condição dos pais em busca da sobrevivência, com jornadas extensas de trabalho; terceirizando assim, a educação do (s) filho (s). Nesse sentido, ao depararmos com o versículo bíblico …“Quem ama bastante o filho, usa o chicote, para no fim se alegrar. Quem corrige o próprio filho, depois terá satisfação, e ficará orgulhoso dele na frente dos conhecidos. ” (Eclesiástico 30, 1-2). O primeiro impacto seria uma reação de estranhamento, sobretudo, pelo fato destes terem empreendido um novo sentido a palavra amor. Assim sendo, a falta de tempo cronológico é compensada com presentes, objetos estes que funcionam como um pedido inconsciente de desculpas destes pais que não mais compartilham com os filhos, nem as refeições, quanto menos um olhar atento ao seu desenvolvimento. Talvez a palavra chicote provoque diversas reações, como: “que horror, sou amigo dos meus filhos”… “ Não uso de violência para educar”… “ Escolhi uma boa escola, pois espero que recebam dela excelente educação”… “ A rotina diária das crianças será todo preenchida com diversas atividades (terceirização da educação) ”. Com certeza muitos outros argumentos virão para justificar a falta de diálogo e conivência entre pais e filhos. Voltando ao versículo 1, é importante desmistificar a palavra “chicote”, figura de linguagem que significa conduzir, orientar, partilhar, colocar regras, limite.
O processo educacional das crianças fica prejudicado pelo fato de muitos pais modernos não entendem que o termo “Educação” compreende a obrigatoriedade da família, do Estado e consequentemente da Escola. A Educação de uma criança implica no direito à vida, à saúde, à escolarização, à proteção familiar, à cultura, ao esporte, lazer, entre outros. Compete ao Estado elaborar Políticas Públicas eficientes, e, aos cidadãos reivindicá-las e fiscalizá-las. Nesse sentido, o processo de Educação difere do Processo de Escolarização. Assim sendo, a escolarização é uma parte do Processo de Educação, onde o professor ajuda a família e não o contrário. Digo isso, por observar que se tornou hábito os pais e o Estado delegarem a escola este papel. Fato recente ilustra bem esta situação, o ato de violência causado por dois adolescentes, vitimando dez pessoas numa escola em Suzano. Conflitos familiares provocados por drogas lícitas e ilícitas; o abandono de menores em mídias sociais (sem fiscalização de responsáveis); a falta de um olhar atento e investigativo por parte dos pais ou responsáveis nas atitudes e reações da criança; o hábito errado ao perguntar o que o filho (a) quer, abrindo mão do ato formativo da identidade da criança que dependem da postura dos pais delegarem (dar ordens, nortear com respeito), ou seja, agir com autoridade. Desta forma, todos os envolvidos neste caso (“assassinos” e assassinados) são vítimas e não carrascos que agiram apenas por vontade própria. Fato este comprovado pelos programas de computador apreendidos dos jovens agressores, que muitas vezes são os formadores de crianças de bem pelo fato dos pais estarem ocupados navegando nas redes sociais.
Enfim, os pais precisam reaprender a dialogar mais com seus filhos, considerando que o diálogo supõe, um olhar atento e respeitoso as necessidades da criança, fator este cada vez mais inexistente nas famílias, pois as redes sociais estão ocupando o tempo dos pais, como também, servindo de “cuidadora” para os filhos. Considerando que o adulto da relação deverá exercer a autoridade, palavra esta que supõe, entre outras coisas, ter clareza que o ser humano desejo formar. Assim sendo, é responsabilidade dos pais e/ou responsáveis ensinar a criança/adolescente a ser ético, competente, letrado, solidário, ter religião, ser feliz, entre outros.
Roseli da Silva Martins – Pedagoga