O Papa Francisco nos orienta que neste ano Santo da Misericórdia somos chamados a fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais. Ele nos lembra das situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual e faz o apelo para que nós, cristãos católicos, reflitamos sobre as Obras de Misericórdia Corporal e Espiritual.
Neste ano, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar das feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com solidariedade e atenção. Segundo o Documento de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, somos convocados a fazer da Misericórdia um “programa de vida”, como fez Jesus em sua vida.
Neste artigo vamos refletir sobre a primeira Obra de Misericórdia Corporal: “Dar de comer a quem tem fome”. O alimento é uma necessidade humana básica, se a pessoa não se alimenta, morre. Muitas Congregações Religiosas e Associações leigas nasceram com este carisma: socorrer os necessitados flagelados pela fome. Nessa época, não havia a consciência de que o problema da fome era estrutural, isto é, na organização da sociedade, uns acumulam para ter lucro e outros ficam sem nada, passando fome. Esta organização perversa da sociedade gera “ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres”, como denunciou o Documento de Puebla nº 30.
A partir dessa análise, a Igreja percebeu que deveria trabalhar nas causas que geram a miséria e não apenas na consequência, que é alimentar os pobres. E passou de uma pastoral assistencial para uma pastoral mais promocional, orientando as pessoas assistidas a serem sujeitos da sua história e não apenas objeto da caridade. Atualmente, sabemos que as pessoas mais pobres são contempladas nos Programas de Transferência de Renda, como Bolsa Família e outros benefícios instituídos pela Política de Assistência Social. Contudo, ainda há muitos que não tem como garantir o direito à alimentação. Como refletimos no Evangelho de Mateus 25, Jesus ressuscitado se apresenta no rosto faminto.
Como pessoas de fé, sabemos que é a partir do encontro com o pobre e da solidariedade para com ele que podemos reconstruir a justiça que nos humaniza e nos faz viver a misericórdia. Portanto, dar de comer a que tem fome é um enorme gesto de compaixão, onde reconhecemos Jesus no faminto. Além de dar o necessário para saciar a fome, também somos chamados a resgatar a nossa própria pobreza lembrando que vivemos entrelaçados como os fios de uma teia, todos precisam de todos.
E que possamos rezar como Santa Faustina, humilde apóstola da Misericórdia: “Ajuda-me Senhor, para que meus olhos sejam misericordiosos, para que eu jamais suspeite ou julgue segundo as aparências, mas que busque o belo”.
Ir. Ivani Costa