A Palavra do nosso Pároco – Junho 2020

“Se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo”
Lc 13,3.

Foi o que Jesus disse às pessoas que levaram a ele notícias sobre os galileus que Pilatos tinha matado, e sobre a queda da torre de Siloé, em que morreram dezoito pessoas. No tempo de Jesus se pensava que tais tragédias eram castigo de Deus por causa do pecado das pessoas, ou que elas eram mais pecadoras. Jesus não aceita esta mentalidade e chama a todos para a conversão ao projeto de Deus. No caminho da vida há acontecimentos trágicos. Estes não significam que as vítimas são mais pecadoras do que os outros. Ao contrário, são apelos de Deus para que se pense no imprevisível dos fatos, na urgência de conversão e na vivência dos valores do Reino. “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado” cf Mt 6,33.

 

 

Estamos vivendo uma grande e grave crise sanitária, uma pandemia, causada pelo coronavírus. Pegou a todos de surpresa, algo que jamais prevíamos. Alguns disseram ser castigo de Deus. As pessoas que pensam isto têm uma ideia errada de Deus. Deus não castiga, mas permite que soframos as consequências de nossas escolhas erradas. Deus respeita a nossa liberdade, pois nos criou e nos dotou com inteligência. Em Dt 30, 15.19, Deus nos faz a proposta de escolher entre a vida e a morte.

“Veja: hoje eu estou colocando diante de você a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Hoje eu tomo o céu e a terra como testemunhas contra vocês: eu lhes propus a vida ou a morte, a bênção e a maldição. Escolha, portanto, a vida”. A vida e a morte, a felicidade e a desgraça dependem da opção histórica que fazemos entre o Deus da liberdade e da vida e os ídolos, que produzem escravidão, tragédias e morte.

Deus não impõe, mas propõe. Apresenta a sua proposta, nos garantindo vida e felicidade, se optarmos por ela, e nos alerta sobre as consequências da nossa recusa à sua proposta.

O mundo de hoje é marcado pelo secularismo e pelo relativismo. Temos nos colocado como senhores da natureza e da vida humana. Há muita prepotência, onipotência e autossuficiência, tudo é permitido, não existem limites nas ações das pessoas, tudo pode, não existe nada de errado, muitos querem ser donos da sua própria vida, dizendo que a vida lhe pertence e que faz dela o que bem quer. Para muitos, Deus não é a opção fundamental da sua vida, e até prescindem Dele, achando que Deus tolhe a liberdade impedindo cada um fazer o que quer e ser senhor de seu destino. A idolatria do dinheiro gerada pelo capitalismo selvagem tem destruído a natureza, o meio ambiente comprometido a vida humana no planeta, bem como a vida do planeta. O capital é colocado acima da existência humana e como senhor absoluto.

 

A pandemia evidenciou toda essa realidade, as chagas sociais foram expostas e a falta de políticas públicas de saúde, de habitação, de geração e distribuição de renda, de saneamento básico, ficou realmente evidenciada. Se estas realidades não mudarem, se não houver uma conversão pessoal e social, esta pandemia e tantas outras pandemias como a fome, a violência, a idolatria do dinheiro e a indiferença continuarão destruindo vidas humanas, e a nossa casa comum.

 

Portanto, que lições devemos tirar desta pandemia?

A pandemia nos ensina, antes de tudo, a recuperar a nossa humanidade, que estava sendo colocada em terceiro ou quarto plano, somos humanos; ensina a valorizar a presença do outro, do calor humano do outro. da proximidade, dos afetos. Sim, a pandemia é uma redescoberta dos afetos. As famílias tiveram que redescobrir a relação afetiva, pois cada um estava mergulhado no seu mundo, no seu isolamento dentro de casa. Hoje, o encontro leva ao diálogo, a abertura ao outro, e  juntos temos que sobreviver.

 

Outro ensinamento desta pandemia é sobre a economia. Urge fazer surgir uma economia que seja solidária, geradora de igualdade social, que distribua renda, que respeite a nossa casa comum. Devemos continuar reivindicando junto ao poder público, as urgentes e inadiáveis políticas públicas de saúde, educação, saneamento básico, habitação e geração de emprego.

 

Em nível de Igreja, uma maior valorização dos meios de comunicação social e das redes sociais para o anúncio da Palavra de Deus, a transmissão de valores e a diminuição das distâncias entre nós, sem, contudo, deixar de lado o contato pessoal. Quero destacar a importância da Pastoral da Comunicação nas paróquias.

 

Deus abençoe a todos e a todas com a sua paz e o seu amor!

Padre Tarcísio.

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