Devido à solenidade da celebração do Corpo e Sangue de Cristo, que acontece neste mês de junho, quero refletir com vocês sobre a Eucaristia, celebração do mistério pascal de Cristo, memória permanente de sua presença em nosso meio.

 

A Igreja vive da Eucaristia: 

 

A Igreja vive de Jesus Eucarístico, por ele é nutrida, por ele é iluminada. A Eucaristia é fonte e centro da vida da Igreja e de cada cristão. E é também a fonte e o centro da sua missão.

 

A Eucaristia, presença Salvadora de Jesus na Comunidade Eclesial e seu alimento espiritual, é o que de mais precioso pode ter a Igreja no seu caminho ao longo da história.

 

Nenhum cristão pode ficar sem este alimento, por isso urge cada vez mais ter a consciência da participação na celebração dominical. Sobre a importância da santificação do domingo pela participação na celebração, já nos manifestamos várias vezes em homilias, e reflexões em nosso boletim informativo. Um domingo sem a Palavra de Deus, e sem a Eucaristia não é um domingo completo.

 

No início do século IV, quando o culto cristão era ainda proibido pelas autoridades do Império Romano, alguns cristãos do Norte da África, que se sentiam obrigados a celebrar o dia do Senhor, desafiaram tal proibição. Foram martirizados enquanto declaravam que não lhes era possível viver sem a Eucaristia, alimento do Senhor. Sem o domingo não podemos viver. Também nós não podemos viver sem o Sacramento da nossa Salvação e devemos traduzir na vida o que celebramos no dia do Senhor.

 

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (Jo 6,51). Jesus é o nosso alimento porque nos transmite tudo o que o Pai lhe comunicou.

 

O Senhor Jesus, pão da vida eterna, incita a tornarmo-nos atentos às situações de indigência em que vive grande parte da humanidade, violência contra a vida humana, contra a natureza, o meio ambiente, situações indignas em que vivem muitos homens e mulheres nas quais se morre à míngua de alimentos por causa da injustiça e da exploração. O pão que é mastigado na Eucaristia é a carne de Jesus, sua vida humana dada por nós na morte por amor, até o fim.

 

A vida de Jesus permanece em quem participa de verdade na Eucaristia, e este por sua vez permanece em Jesus. É uma comunhão de vida. Participar de verdade na Eucaristia é participar com verdadeira fé e em comunhão de caridade, em atos de verdade. Sem a fé e a caridade a Eucaristia não é verdadeira e não ajuda quem dela participa, antes pelo contrário!

 

Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração eucarística. É necessário manter viva na comunidade cristã uma verdadeira fome da Eucaristia, que leve a não perder qualquer ocasião de ter a celebração da Missa. É da Eucaristia que o discípulo missionário tira a força espiritual que precisa para levar em frente a missão de anunciar e de testemunhar Jesus Cristo, seu Reino, e seu Evangelho.

 

São João Crisóstomo comenta: com efeito, o que é o Pão? É o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo de Cristo, não muitos corpos, mas um só corpo.

 

Eucaristia fonte e manifestação de comunhão: 

 

A Eucaristia é fonte e manifestação de comunhão. “Permanecei em mim, e eu em vós”, disse Jesus, cf. São João 15,4.

 

Receber a Eucaristia é entrar em comunhão profunda com Jesus. Tal relação de íntima e recíproca permanência nos permite antecipar, de algum modo, o céu na terra.

 

A comunhão eucarística nos é dada para saciar-nos de Deus nesta terra na espera da satisfação plena no céu. São Paulo afirma: “Já que há um único pão, nós embora muitos, somos um só corpo, visto que participamos desse único pão” (cf. 1ª- Cor 10,17). No mistério Eucarístico Jesus edifica a Igreja como comunhão, segundo o supremo modelo evocado por Ele: “ Como tu Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” cf. Jo 17,11. Se a Eucaristia é fonte da unidade eclesial, ela é também sua máxima manifestação.

 

Para que cresça o sentido da comunhão é necessária a participação de todos nos momentos celebrativos, bem como nos encontros de formação, e assumir também os projetos ou planos de pastoral, a níveis de diocese e paróquia. A Eucaristia cria comunhão, e educa para a comunhão.

 

A defesa e promoção da comunhão eclesial é tarefa de todo fiel, que encontra na Eucaristia como sacramento da unidade da Igreja um campo de especial solicitude.

 

Os gestos e as palavras de Jesus não são apenas afirmação de sua presença sacramental no pão e no vinho. Manifestam também o sentido profundo de sua vida e morte, isto é, Jesus viveu e morreu como dom gratuito, como entrega de si mesmo aos outros, opondo-se a uma sociedade em que as pessoas vivem para si mesmas, e para seus próprios interesses.

 

A exemplo de Jesus, o discípulo missionário deve fazer o mesmo: viver para os outros.

 

Para que nossas comunidades, sejam comunidades eucarísticas, elas não podem fechar-se em si mesmas como se fossem auto suficientes, mas devem permanecer em sintonia com todas as outras comunidades católicas.

 

Eucaristia e Envio Missionário: 

 

Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária.

 

Da Eucaristia brota o apelo e o envio missionário. Não há nada de mais belo do que encontrar e comunicar Cristo a todos. Aliás, a própria instituição da Eucaristia antecipa aquilo que constitui o cerne da missão de Jesus: Ele é o enviado do Pai para a redenção do mundo.

 

“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (Documento de Aparecida nº- 29).

 

É preciso sair ao encontro dos afastados, interessar-se por sua situação, a fim de tornar a encantá-los com a Igreja e convidá-los a retornarem para ela. Eis o compromisso missionário de toda a comunidade. E é urgente. Temos de apressar os passos.

 

Não podemos nos iludir: pelo amor mútuo e, em particular, pela solicitude por quem está necessitado seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo. É com base neste critério que será comprovada a autenticidade de nossas celebrações eucarísticas (Papa João Paulo II).

 

Nossas comunidades devem se colocar a serviço dos últimos, dos esquecidos, e dos marginalizados.

 

Na Eucaristia, nosso Deus manifestou a forma extrema do amor, derrubando todos os critérios de domínio que regem frequentemente as relações humanas e afirmando de modo radical o critério do serviço: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35). Não por acaso, no Evangelho de João não encontramos a narrativa da instituição da eucarística, mas a do “lava-pés” (cf. Jo 13,1-20): inclinando-se para lavar os pés de seus discípulos, Jesus explica de modo inequívoco o sentido da Eucaristia.

 

Ao final de cada missa somos enviados a viver, e a testemunhar o que celebramos. Somos enviados a anunciar o amor de Cristo que redimiu toda a humanidade. Esse é o sentido da despedida feita pelo sacerdote: “Ide em paz”.

 

Precisamos fortalecer a ação evangelizadora e missionária em nossos bairros, fazendo com que todos sintam a presença da Igreja. Uma presença que deve ser solidária, acolhedora, e fraterna.

 

Por isso, reafirmamos o apelo para que nossas comunidades sejam cada vez mais missionárias. Que o espírito missionário esteja presente em todas as pastorais, e em todos os grupos de base. Que todas as atividades das comunidades e das pastorais, sejam feitas com o objetivo de fazer discípulos missionários.

 

Queremos destacar as nossas quatro preocupações pastorais que brotam das cinco urgências na ação evangelizadora:

– As visitas missionárias (com o apoio de todos os agentes de pastorais, sob a orientação do conselho missionário paroquial, e das equipes missionárias das comunidades);
– Os grupos de base (fortalecendo os que já existem, e onde for necessário formar outros);
– As equipes missionárias (novos agentes);
– As pastorais sociais, com um constante, e maior interesse dos agentes que são membros, bem como de todas as comunidades, sua articulação e seu trabalho nas comunidades.

 

Essas preocupações pastorais devem ser assumidas por todos com gestos, e atitudes bem concretas, que visem encontrar soluções.

 

Portanto, mãos à obra! Bíblia na mão e no coração, e pé na missão.

Deus abençoe a todos, e a todas.

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Padre Tarcísio.

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