ESPIRITUALIDADE PARA UMA AÇÃO TRANSFORMADORA
O Papa Francisco na Alegria do Evangelho nos convida a sermos evangelizadores com espírito, que quer dizer evangelizadores que se abrem sem medo à ação do Espírito Santo. Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras, mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus. Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que rezam e trabalham.
Do ponto de vista da evangelização, não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração.
Cristãos e cristãs envolvidos nas pastorais sociais enfrentam, cotidianamente, a situação de miséria, opressão e violência nos âmbitos econômico, político, social, cultural e de gênero, ou seja, enfrentam uma realidade marcada pela injustiça institucionalizada. Agindo nessa situação, os agentes das pastorais sociais são chamados a manifestar a presença de Deus revelado em Jesus Cristo e a atualizar a sua presença, posicionando-se segundo os critérios da ação de Jesus.
O cultivo da mística e da espiritualidade, individual e comunitária, nos desperta e nos mantém no serviço da caridade. Aponta para o compromisso com Jesus e o seu Reino. Quando se fala de espiritualidade no âmbito das pastorais sociais, pretende-se tratar daquilo que sustenta agentes e lideranças que assumem a tarefa de agir em nome da Igreja, em espaços nos quais a vida é ameaçada e em que se esperam ações que transformem esta realidade de morte em sinais do Reino de Deus, ou seja, ações que recuperem, devolvam a vida e a esperança àqueles que se encontram nas sombras da morte.
Embora distintas, mística e espiritualidade relacionam-se e alimentam-se. A mística é a opção fundamental, a decisão que cada um e cada uma toma em favor de quê e de quem gastar a própria vida. A espiritualidade é o que sustenta esta decisão, a alimenta e não deixa esmorecer, a atitude fundamental é viver segundo o Espírito Santo. Desta maneira, espiritualidade não é algo já pronto. É um caminhar na história. Neste sentido, pode – se dizer que a mística dos envolvidos com as pastorais sociais é a mística da defesa e do cuidado com a vida, nas várias áreas nas quais ela é ameaçada.
A espiritualidade é a energia que brota do encontro pessoal com Jesus Cristo, na convivência com os pobres, na atenção à Palavra de Deus e na participação na celebração da Eucaristia.
No encontro com o mundo dos pobres, os agentes das pastorais sociais recebem a força e a coragem para seu engajamento, pois no rosto dos excluídos, e marginalizados encontra-se a razão da ação solidária. Os Bispos, em Aparecida, recordaram que “o encontro com Jesus Cristo através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo. Da contemplação do rosto sofredor de Cristo neles e do encontro com ele nos aflitos e marginalizados, cuja imensa dignidade ele mesmo nos revela, surge nossa opção por eles. A mesma união a Jesus Cristo é a que nos faz amigos dos pobres e solidários com seu destino”.
A prática ou o compromisso é o selo de qualidade do cristão e das pastorais sociais, ou seja, uma pratica somente é cristã se inspirada e sustentada por uma mística evangélica. A articulação entre a prática e a espiritualidade é expressa por São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja, quando afirma: “Não fique desatento com as misérias do próximo quando se entrega a contemplação. Não abandone suas altas aspirações quando se faz próximo das misérias humanas”. A vida de oração e a prática da caridade não são momentos independentes ou separados. Elas nutrem-se e complementam-se.
É isso que são Gregório Magno diz ao afirmar: “A caridade se dirige maravilhosamente para as alturas quando ela se deixa, com misericórdia, atrair para as misérias do próximo. Mais ela desce com amor para as fraquezas, mais ela se dirige às alturas”. Essa articulação atesta a veracidade da espiritualidade e confirma a raiz cristã da caridade e da prática misericordiosa.
Padre Tarcísio