Às proximidades da comemoração dos 55 anos da Paróquia Nossa Senhora de Fátima do bairro Vila Fátima, gostaria de olhar para o passado de nossa comunidade de fé para relembrar o chão em que crescemos, ou seja, a nossa história, e também buscar as pistas para alinhar os passos para o futuro.
Sou um jovem seminarista, de apenas 24 anos, cresci e fui inserido na comunidade cristã numa paróquia semiperiférica, edificada em 1964 por padres e religiosas canadenses que, com o objetivo de contribuir na evangelização do Brasil, das dioceses de Ottawa, Mont Laurier e Hull no Canadá, atenderam generosamente ao convite de Dom Marie-Joseph Lemieux, Arcebispo de Ottawa, para partilhar a Missão Ad gentes na América Latina, sob o impulso da CECAL (Comissão episcopal canadense da América Latina) e do CELAM (Conferência Episcopal Latino- Americana). Estes, adeptos da nascente teologia latinoamericana iniciaram suas atividades pastorais no espírito do Concílio Vaticano II, imprimindo nesta paróquia, pelo testemunho dos mesmos, a identidade eclesial “Povo de Deus” (cf. Lumen Gentium, n.9). Esta identidade paroquial adotada foi a estrutura pelas CEBs (comunidades eclesiais de base), que desenvolveram por espiritualidade e missão a vida de comunhão; a justiça social; o cuidado para com a criação.
Nesta dinâmica, a paróquia da Vila Fátima, que no início compreendia territorialmente praticamente metade do que hoje é chamada forania Aparecida, foi cenário de superação de muitos obstáculos sociais, mas foi também casa de partilha da fé, da vida, dos sonhos. Quando criança, junto de minha mãe e da saudosa Maria Valiatti, minha querida avó de coração que era agente da pastoral saúde na comunidade São Francisco, participávamos do grupo de base da rua em que morávamos, coordenado pela também saudosa e querida dona Sofia. Foi lá o primeiro contato eclesial que realmente me cativou; não foi numa Igreja de pedras, cheia de beleza e esplendor, mas numa comunidade viva de fiéis, testemunhas do ressuscitado. Me recordo que sempre eles falavam, em torno da Palavra de Deus, de coisas importantes, de projetos a serem seguidos, falavam da implantação de uma realidade nova. Quando eu ingressei no seminário e voltei às minhas fontes vocacionais, percebi que o assunto discutido por meu pequeno grupo de base, na minha infância, era o Reino de Deus.
Com isto, quero deixar como reflexão, para a celebração dos 55 anos de nossa paróquia, a doação tantos dos nossos irmãos e irmãs na fé que dedicaram suas vidas intensamente à construção do Reino de Deus por meio de novas relações, novas posturas sociais, novo modo de ser Igreja. Esta é a marca fundamental da rede de comunidades que é a paróquia da Vila Fátima, o nosso povo soube gerar diálogo entre a Igreja e uma sociedade em efervescência, entre a fé cristã e o anseio por transformação e libertação crescente do povo. Celebremos a nossa história recordando quantas maravilhas Deus fez na união vida da gente e mantenhamos o ânimo e a coragem para o quanto ainda Deus pode realizar em nós e por nós.
Seminarista Fernando Benetti